Escola ou família: quem ensina o quê?
Pais Ou Professores: Quem Deve Impor Limites Na Educação Infantil?

Escola ou família: quem ensina o quê?

Na escola, a indisciplina ou agressividade são queixas recorrentes dos professores – e, normalmente, a família é apontada como responsável pelo mau comportamento. Afinal, não é função dos pais impor limites e educar as crianças quanto ao que é certo e errado para que elas saibam como agir em outros ambientes?

Em partes, sim. Contudo, isso não livra o professor de seu papel como educador. Apesar de em contextos diferentes, a escola também faz parte da construção de limites das crianças, e não atua apenas transmitindo de conteúdo (especialmente na Educação Infantil, em que a preocupação deve ser o desenvolvimento integral do ser humano). É preciso distinguir a educação de casa e da escola.

Escola ou família: quem ensina o quê?

A pré-escola é o primeiro ambiente em que a criança é parte de uma sociedade – e aprender regras de convivência faz parte disso (foto: The Village School)
A pré-escola é o primeiro ambiente em que a criança é parte de uma sociedade – e aprender regras de convivência faz parte disso (foto: The Village School)

A família é a primeira instituição social, o primeiro grupo com determinadas regras, ao qual a criança tem contato. Ela é responsável por trabalhar a ética e os valores, os direitos e deveres de cada um, o respeito às outras pessoas. E, é claro, a noção de limites e responsabilidades e o respeito (e não medo) por autoridades.
Porém, não é até entrar na escola que a criança precisa conviver de fato com diferenças e aprender a atuar em uma sociedade. Isso, é claro, causa um momento de estresse e frustração absolutamente normal: a socialização é difícil e implica deixar de ser o centro das preocupações dos adultos para, ao invés disso, dividir essa atenção com os colegas; ver-se obrigado a fazer coisas que não gostaria e abrir mão de brinquedos para compartilhá-los com o grupo; obedecer regras para o bem de todos e seguir uma rotina desconhecida.

A escola, portanto, cumpre uma tarefa essencial de mostrar aos alunos o senso de coletividade e a necessidade de normas para que todos vivam em harmonia.

Quando começar a impor limites?

Choros e acessos de raiva são reações normais ao “não” – nem por isso os pais e professores devem abandonar os limites (foto: The Huffington Post)
Choros e acessos de raiva são reações normais ao “não” – nem por isso os pais e professores devem abandonar os limites (foto: The Huffington Post)

Desde o primeiro dia, tanto em casa quanto na escola. Na primeiríssima infância, dos 0 aos 3 anos, as crianças estão em uma fase chamada egocêntrica e hedonista: buscam a satisfação imediata e ainda não conseguem entender outros pontos de vista – todo o mundo se resume a elas, ao que sentem e precisam.

Sim, elas são fofas e você pode morrer de pena, mas, mesmo com essa idade, as crianças compreendem o que é certo e errado. Estabelecer rotinas e regras nessa fase transmite segurança e conforto.

Por outro lado, entre os 3 e os 5 anos, elas passam a desenvolver mais independência. É a época de testar limites e descobrir o quanto conseguem fazer por conta própria. Também pode ser um período de agressividade e birra, caso os limites não sejam bem definidos e claros.

Ou seja, na Educação Infantil, elas vão experimentar agressões, mordidas, choro, xingamentos, gritos e todo tipo de pressão que possam conceber para conseguir o que querem. Isso não significa, de jeito nenhum, que essas crianças são más – a tentativa faz parte do desenvolvimento e todos esses sinais de rebeldia são formas de comunicação. Cabe aos adultos mostrar que eles não são eficientes, tampouco o caminho adequado para atingir qualquer objetivo.

Como garantir limites firmes – sem ser um ditador?

Família e escola devem caminhar juntas: entender a rotina da criança em casa vai ajudar a lidar com seu comportamento em sala (foto: Huffpost)
Família e escola devem caminhar juntas: entender a rotina da criança em casa vai ajudar a lidar com seu comportamento em sala (foto: Huffpost)

Até aqui, falamos sobre como os limites devem ser estipulados e colocados em prática, mesmo quando as crianças se esforçam para atravessá-los. Ainda que a maioria dos pais e educadores concorde com a teoria, manter-se firme é outra história; é comum acabar criando exceções por medo de ser autoritário demais… Ou por pura exaustão.

Dentro de casa, regras e limites são cada vez mais raros. É o que diz Tânia Zagury no livro “Escola sem conflito: Parceria com os pais”: “Os pais têm larga parcela de culpa no que diz respeito à indisciplina dentro da classe. É uma situação cada vez mais comum: eles trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educação das crianças.

Sentindo-se culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e esperam que a escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar para a criança os valores éticos e de comportamentos básicos”. Criadas em ambientes onde todos os seus desejos são prontamente atendidos, é lógico que as crianças repetirão esse modelo em outras situações, inclusive na escola.

Acontece que esse sentimento de culpa e dúvida ao impor regras não afeta somente os pais. Professores também se encontram incertos quanto a onde traçar limites e temem se tornar autoritários demais. Quando não o fazem, questionam se estão sendo omissos ou incapazes.

Isso ocorre quanto o professor não está confortável para educar aquelas crianças: por medo da reação dos pais ou da coordenação ou mesmo por não conhecer suficientemente a história de cada criança para saber como agir. É preciso estreitar a comunicação entre a escola e a família, entender o comportamento dos pais e da criança em casa e como isso se reflete em sala de aula.

A família deve estar de acordo e apoiar as decisões do professor e, para tal, deve ser sempre bem informada. Conversas para explicar as dificuldades de comportamento podem ser acompanhadas de material de leitura que embase o que o professor está sugerindo. Falem sobre o equilíbrio entre limites e liberdades e esclareçam todas as dúvidas de ambos os lados.

Outra chave para impor limites com sabedoria é respeitar a criança e não ferir sua autoestima. Garanta que ela compreende o porquê de poder ou não fazer algo e as consequências de suas ações – explique com firmeza e em poucas palavras, sem enrolação, e então faça perguntas para ver se ela entendeu. Evite dar castigos e punições humilhantes ou fazer comentários pejorativos; chame a atenção em particular, sempre que possível, e não diante de todos os colegas.

Pequenas atitudes para impor limites

Família e escola devem caminhar juntas

Antes de mais nada, saiba que impor limites não é algo que vai começar e terminar em uma única aula. Demora. O professor terá que repetir a mesma coisa consistentemente, centenas de vezes, até que os resultados apareçam – e isso não quer dizer que você esteja fazendo errado.

Cumpra o que diz
Se você afirmou que “todos devem guardar seus materiais antes de ir para o parquinho”, nada de abrir exceções porque está com pressa ou cansada. Mantenha sua palavra, pois é essa constância que trará autoridade. As crianças passam a entender que você está falando sério quando pede algo ou dá instruções e, por isso, obedecerão logo no primeiro chamado.

Fale com calma
Não se altere, gritando ou xingando a turma desobediente. Sempre que for explicar ou pedir algo a uma criança, vá até ela e abaixe-se para ficar da mesma altura. Mantenha a voz baixa, o que mostra que você está no controle da situação.

Dê apenas um aviso
Nada de ficar ameaçando, ameaçando e nunca cumprir. Avise uma única vez que algo precisa ser feito e porque. Dar vários avisos vazios mostra às crianças que o professor (ou pai) não acredita naquilo que está dizendo e que nada vai acontecer a ela, portanto, não precisam cumprir o que foi mandado.

Esqueça barganhas e ameaças – elas funcionam contra você
Oferecer prêmios por tarefas que deveriam ser obrigação das crianças (como arrumar os próprios brinquedos) não somente tira o sentido de coletividade e responsabilidade como ensina que elas podem exigir mimos o tempo todo – originando situações em que elas podem perguntar “e o que eu vou ganhar com isso?”.
Ameaças tampouco funcionam. A psicóloga Diane Levy, autora do livro “É claro que eu te amo… Agora vá para o seu quarto!” conta como essa atitude dá espaço para a criança recusar o trabalho: “Aprendi essa lição muito cedo com o meu filho. Quando dizia ‘Robert, se você não guardar seus brinquedos agora, não iremos ao parque esta tarde’, ele apenas respondia ‘tudo bem’. E eu ficava sem saber para onde ir”.
Caso você recorra às ameaças, lembre-se de que deve seguir com sua palavra até o final: caso tenha prometido que a uma criança que ela ficaria cinco minutos do recreio dentro da sala, ela deve ficar – então, pense bem se você possui equipe suficiente para assistir a turma no pátio e a criança dentro da escola.

Valorize a autonomia
Por fim, lembre-se que limites caminham lado a lado com a liberdade. Permita que as crianças façam por conta própria aquilo que já são capazes de fazer, dê apoio e incentive tentativas.
Diga não quando necessário, porém, em vez de proibir sem mais explicações, sempre sugira alternativas a um mau comportamento, mostrando maneiras saudáveis de lidar com sentimentos ou de se conseguir o que quer.

Fonte: Eduqa.me

A clínica Joseph El-mann é especialista em pediatria e neonatologia e oferece diversos serviços para o melhor atendimento. A clínica pediátrica está localizada na Av. das Américas, 3555, Rio de Janeiro.

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