A forma como as dificuldades se manifestam ao longo da vida nos indivíduos com Dislexia se modifica conforme o desenvolvimento e varia dependendo das interações entre as exigências ambientais, a variedade e a gravidade das dificuldades de cada um.

A forma como as dificuldades se manifestam ao longo da vida nos indivíduos com Dislexia

Ao lado das manifestações no ambiente acadêmico, é comum a ocorrência de alto nível de sofrimento psicológico e pior saúde mental geral, como episódios de Transtorno de Ansiedade, incluindo queixas somáticas (dores em uma ou diversas partes do corpo), ou Ataques de Pânico, que acompanham as expressões das dificuldades de aprendizagem ao longo da vida.

Associado a isso, há a possibilidade de consequências que são bastante preocupantes durante toda
a vida, como o baixo desempenho acadêmico, maior probabilidade de não cursar o Ensino Médio,
menores chances de atingir o Ensino Superior, maiores taxas de desemprego e menor renda. É muito importante que a identificação e o tratamento adequados dos Transtornos Específicos de
Aprendizagem sejam realizados o mais precocemente possível, uma vez que, com a intervenção
adequada, tudo pode ser diferente, principalmente o futuro do seu filho ou da sua filha.

A identificação dos sinais de dificuldades
de aprendizagem para o diagnóstico
e as intervenções específicas devem
ser realizadas o mais precocemente
possível. Lembre-se: você é ferramenta
essencial na vida do seu(sua) filho(a) e
pode, inclusive, mudar o seu futuro, ao
possibilitar que ele(a) se desenvolva da
maneira mais saudável possível!

Dificuldades percebidas na vida acadêmica

O diagnóstico da Dislexia

A palavra Dislexia vem do grego dis (mau funcionamento, disfunção) e lexia (palavra) e se refere a uma alteração do neurodesenvolvimento de origem biológica associada a manifestações comportamentais. Essas manifestações decorrem de uma série de fatores, como a interação de questões genéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações com eficiência e exatidão. Além disso, sofrem intensa influência das condições da gestação e do nascimento, o que produz uma forma distinta de funcionamento cerebral.

Quando falamos em Dislexia, estamos tratando de um Transtorno Específico de Aprendizagem. Mas o que seria um transtorno? Transtorno é um termo utilizado geralmente na área da saúde e descreve de maneira sistematizada uma série de características comuns a um grupo de pessoas, facilitando, assim, a comunicação entre os profissionais de diversas áreas. Da mesma maneira que temos os Transtornos de Ansiedade e o Transtorno do Espectro Autista, temos também os Transtornos Específicos de Aprendizagem, que dizem respeito a uma dificuldade e/ou funcionamento abaixo do esperado de um ou mais dos seguintes domínios: leitura, expressão escrita ou matemática.

Assim, o processo diagnóstico envolve a compreensão de diversos aspectos, sendo o primeiro o fato de que a dificuldade na aprendizagem e no uso de habilidades escolares deve ter persistido por pelo menos seis meses, apesar de intervenções dirigidas a elas. Essas intervenções dizem respeito ao modelo de Resposta à Intervenção – RTI (da sigla em inglês para Response to Intervention), cujo principal objetivo é prevenir as dificuldades de aprendizagem e de comportamento por meio da aplicação de intervenções baseadas em evidências científicas.

É recomendado que uma primeira fase (camada de intervenção) da RTI deve ser aplicada na escola. Por meio dessa intervenção, é possível identificar se o mau desempenho está relacionado a uma metodologia de ensino não adequada, a questões comportamentais ou a dificuldades específicas. Inicialmente se faz uma triagem com todas as crianças e apenas as que não apresentam uma resposta satisfatória seguem para as outras etapas do programa (camadas 2 – intervenção em pequenos grupos e camada 3 – intervenção individualizada), que vão se tornando cada vez mais específicas/intensivas e são sempre monitoradas. Caso as dificuldades se mantenham, apesar do acompanhamento especializado, há chances de que a criança possa apresentar um Transtorno Específico de Aprendizagem.

Ainda: as habilidades escolares afetadas devem estar substancial e qualitativamente abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo, ou seja, uma criança com 12 anos de idade pode estar rendendo na escola de modo compatível ao desempenho de uma criança menor, causando interferências não apenas na vida escolar, mas também na realização das atividades cotidianas e em sua autoestima.

As dificuldades na aprendizagem começam na idade escolar, mas podem não se manifestar plenamente até que a demanda daquela habilidade ultrapasse a capacidade limitada do indivíduo (ex.: avaliações com limites de tempo, leitura ou produção de textos longos e complexos com prazo curto, sobrecarga acadêmica). Essas dificuldades na aprendizagem não podem ser explicadas por deficiências intelectuais, déficits visuais ou auditivos não corrigidos, outros transtornos neurológicos ou mentais, adversidade psicossocial, baixa proficiência na língua utilizada para a aprendizagem acadêmica ou instrução educacional inadequada.

Da mesma forma, as habilidades acadêmicas afetadas devem estar substancialmente e mensuravelmente abaixo do esperado para indivíduos da mesma idade cronológica, e causar interferência significativa no desempenho acadêmico e profissional com instrumentos de medida apropriadamente padronizados e avaliação clínica abrangente. Outros critérios diagnósticos incluem:

Diagnósticos

Neste sentido, para confirmar um quadro de Transtorno Específico de Aprendizagem, os critérios
diagnósticos devem ser preenchidos com base na síntese clínica da história do paciente (desenvolvimental, médica, familiar e educacional), em relatórios escolares e avaliação psicoeducacional, sendo que essa investigação abrangente deverá envolver profissionais especialistas em transtornos de aprendizagem e em avaliação psicológica/cognitiva.

Métodos de tratamento da Dislexia

A Dislexia é um Transtorno Específico de Aprendizagem heterogêneo, isso significa que os disléxicos não são todos iguais, com as mesmas dificuldades e necessidades. Sendo assim, não há um único método de tratamento. Entretanto, alguns aspectos devem ser considerados nesse processo:

Atendimento interdisciplinar
A avaliação realizada por uma equipe de profissionais indica quais as necessidades de cada disléxico.
Há diversas combinações possíveis de atendimentos por especialistas. No geral, os profissionais
mais indicados são o fonoaudiólogo, o psicopedagogo e o psicólogo.

Nem sempre todos esses tratamentos são necessários ao mesmo tempo. Pode-se iniciar por uma especialidade e, ao longo da evolução, ou com o surgimento de novas questões, outras terapias podem ser priorizadas. A existência ou não de transtornos associados também pode interferir na decisão de quais tratamentos devem ser seguidos e em que momento.

Geralmente, quando a avaliação é realizada por uma equipe, essa hierarquia de prioridade de terapia é estabelecida, de forma a esclarecer qual profissional pode auxiliar nas principais dificuldades apresentadas. Se a equipe não fizer essa recomendação, é importante que você, pai ou mãe, questione sobre isso, pois é algo que pode fazer toda a diferença no tratamento de seu(sua) filho(a).

Utilização de métodos baseados em estratégias fônicas para a alfabetização
Há diversas pesquisas que comprovam a importância de se reforçar a consciência dos sons nas crianças antes e durante a alfabetização, pois essa prática facilita o processo de aquisição de leitura e escrita e é um forte potencializador para o bom desempenho nessas habilidades. Para os indivíduos com dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita isso é ainda mais importante.
Trabalhar oralmente com os sons das palavras é fundamental para, em seguida, associar letras a esses sons. Isso possibilita ao disléxico ler sem fazer adivinhações, com maior precisão e, consequentemente, compreender melhor o material lido.

Estimulação multissensorial
Em sala de aula ou estudando com os filhos em casa, temos a tendência de usar muitos estímulos verbais para as explicações, isto é, falamos bastante, privilegiando assim o canal auditivo para a entrada de informações. Ocorre que temos outros sentidos, como a visão, o tato, o olfato e o paladar. Para muitos disléxicos e demais pessoas com dificuldades de aprendizagem, esses outros canais podem ser mais bem aproveitados.

A apresentação de imagens, esquemas, filmes, entre outros, pode facilitar a aprendizagem, assim como situações que explorem outros sentidos e até emoções. Recomenda-se que o professor utilize diferentes formas de apresentação para o mesmo conteúdo, envolvendo mais sentidos do que a audição. Ele pode desenhar na lousa uma linha do tempo durante a aula de história, realizar com os alunos experiências científicas, utilizar exemplos práticos para ensinar conceitos mais difíceis (fazer um mercadinho na sala de aula para que os alunos aprendam as operações matemáticas enquanto simulam situações de compra), por exemplo.

VOCÊ SABIA?
O déficit de processamento
fonológico, ou seja, a dificuldade
em utilizar as unidades sonoras que
constituem a palavra, tem sido
relacionado aos quadros dos Transtornos
Específicos de Aprendizagem de forma
universal e persistente, podendo ser
identificado ainda antes de a criança
iniciar o processo de alfabetização,
propiciando o desenvolvimento de
programas de intervenção
precoce

E, se para ensinar podemos explorar canais diversos, para avaliar devemos fazer o mesmo. Elaborar formas diversas de avaliação pode facilitar a demonstração de conhecimento dos indivíduos com dificuldades em se expressar por meio da escrita. A elaboração de esquemas, apresentação de seminários, dramatizações, construções de maquetes são algumas possibilidades que podem complementar ou até substituir as avaliações escritas.

Recomendações

Adaptações pedagógicas aliadas ao trabalho dos especialistas
É muito importante que o trabalho terapêutico dos especialistas esteja alinhado ao desenvolvido na escola, pois a criança ou o jovem que se encontra em terapia, melhorando suas condições de leitura e escrita, pode precisar de algumas adaptações nas atividades escolares. Vale ressaltar que não há uma receita para todos os indivíduos, cada um tem dificuldades específicas e em diferentes graus. Provas orais, por exemplo, podem não ser recomendadas a todos os estudantes com dificuldades para ler e escrever. Essas adaptações também devem mudar ao longo do tempo, de acordo com a evolução do estudante, proporcionando apoio, sem deixar, porém, de estimular sua autonomia.

Motivação e apoio dos pais e familiares
Crianças com dificuldades de aprendizagem sofrem muitas frustrações e experiências de fracasso. Para que enfrentem a vida escolar e os tratamentos necessários, é fundamental que se sintam apoiadas por seus pais e familiares. Muitos momentos de tristeza ou desânimo podem ocorrer ao longo da caminhada e o afeto e carinho os ajudam a persistir. Momentos de vitórias e conquistas também virão e a valorização daqueles que amam é, da mesma forma, essencial.

Em cerca de 40% dos casos
de Transtornos Específicos
de Aprendizagem, há
comorbidades, ou seja,
combinação com mais de
uma dificuldade específica,
sendo essencial a atenção
a sinais e sintomas que
possam representar
outros distúrbios.

Assim, valorize as conquistas de seu(sua) filho(a) e incentive-o(a) a vencer os novos desafios, tendo sempre paciência, pois muitas vezes as conquistas virão a partir de um passo de cada vez.

No próximo artigo sobre Dislexia, falaremos sobre o que os pais podem fazer para ajudar seus filhos no aprendizado.

Fonte: Instituto ABCD

Chefiada pela doutor Joseph El-mann, graduado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF), a clínica especializada em pediatria e neonatologia, Joseph El-mann, oferece diversos serviços ligados à pediatria e neonatologia. Entre em contato e agende sua consulta.

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