VOCÊ JÁ OUVIU FALAR NA SÍNDROME DE GRISEL?
A Síndrome de Grisel é uma causa rara de torcicolo, definida como uma subluxação atlantoaxial (C1-C2) não traumática decorrente da frouxidão dos ligamentos que sustentam a articulação atlantoaxial. Geralmente está relacionada com infecções de vias aéreas superiores, infecções de cabeça e pescoço e no pós-operatório de cabeça e pescoço. Manifesta-se clinicamente como torcicolo, com inclinação da cabeça para um lado e rotação da cabeça para o lado oposto.
O diagnóstico correto é desafiador e requer um alto índice de suspeita clínica e imagem radiográfica apropriada.
A fisiopatologia exata da Síndrome de Grisel é desconhecida. Uma das teorias aceitas é que o processo infeccioso, em região de cabeça e pescoço, resulta em inflamação, hiperemia e descalcificação de C1 e C2, causando relaxamento do ligamento transverso anterior, com consequente subluxação. Devido à subluxação, ocorre espasmo do músculo esternocleidomastoideo, compensatório, causando o torcicolo.
A maioria dos casos ocorre em pacientes pediátricos e com Síndrome de Down. Isso pode ter relação com questões anatômicas, como tamanho da cabeça, que é proporcionalmente maior em crianças, musculatura cervical mais fraca, ligamentos mais frouxos, articulações e facetas de C1 e C2 mais profundas e horizontais e processo uncinado pouco desenvolvido. Essas diferenças anatômicas funcionam como alavanca para a mobilidade da cabeça, facilitando a subluxação.
O diagnóstico correto é desafiador e requer um alto índice de suspeita clínica e imagem radiográfica apropriada. Clinicamente, pode-se palpar o processo espinhoso de C2 desviado na mesma direção da rotação da cabeça (Sinal de Sudeck), oposto do que ocorre quando o torcicolo não está relacionado com subluxação atlantoaxial (C1-C2), quando o processo espinhoso está desviado na direção oposta à rotação da cabeça. Na síndrome de Grisel, o paciente é incapaz de virar a cabeça para a linha média.
Os exames de imagem vão auxiliar na confirmação diagnóstica.
- Rx simples de coluna cervical: assimetria óssea, deformidade rotacional, intervalo atlantodental e instabilidade com extensão e flexão.
- Tomografia Computadorizada: destruição óssea e desalinhamento das vértebras cervicais, abscessos ou outras infecções de tecidos profundos e do trato respiratório superior.
- Ressonância Nuclear Magnética: mostra mais detalhes de elementos não ósseos, medula espinhal e tecidos moles adjacentes. Também mostra destruição óssea, abscessos ou outras infecções de tecidos profundos e do trato respiratório superior.
Classificação radiológica
Tipo | Achados Radiográficos | Tratamento Recomendado |
I | Desvio rotatório do atlas, sem deslocamento anterior. Neste tipo, o desvio ocorre dentro do arco de movimento normal entre C1/C2 | Antibióticos, benzodiazepínicos ou relaxantes musculares, AINEs e colar cervical macio. |
II | Desvio rotatório com deslocamento anterior do atlas menor que 5mm | Antibióticos, benzodiazepínicos ou relaxantes musculares, AINEs e colar cervical rígido. |
III | Desvio rotatório com deslocamento anterior do atlas maior que 5mm | Antibióticos, benzodiazepínicos ou relaxantes musculares e AINEs.
Tração cervical ou redução fechada seguida por um colete de extensão Halo ou órtese Minerva |
IV | Desvio rotatório com deslocamento posterior do atlas sobre o áxis. | Redução cirúrgica e fusão de C1-C2 |
Classificação de Fielding
Tratamento
O tratamento para a síndrome de Grisel consiste em resolução do processo infeccioso com antibióticos, sintomático (benzodiazepínicos, relaxantes musculares, AINE e imobilização do pescoço) e redução de qualquer subluxação.
O diagnóstico e tratamento precoce previnem sequelas, como anquilose cervical, limitação de movimento do pescoço, dano nervoso, paralisia, deformidade permanente, radiculopatia, dano da medula espinhal e morte. Até 15% dos paciente não tratados desenvolvem complicações neurológicas graves.
Conclusão
Existem inúmeras causas de torcicolo, a maioria benignas. O médico tem que conhecer as possíveis etiologias para poder fazer o diagnóstico correto e instituir o tratamento. Frente a um caso de paciente que apresenta infecção de vias aéreas superiores (amigdalite, otite, abscesso, etc…) e torcicolo, tem que ser aventada a hipótese diagnóstica de Síndrome de Grisel. Nesses casos, é muito comum o paciente apresentar torcicolo persistente. Procure o seu pediatra de confiança para um diagnóstico assertivo, pois algumas condições e doenças não fazem parte do dia a dia do médico e é preciso “conhecer para suspeitar”.
Fonte: Portal Ped
Chefiada pela doutor Joseph El-mann, graduado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF), a clínica especializada em pediatria e neonatologia, Joseph El-mann, oferece diversos serviços ligados à pediatria e neonatologia. Entre em contato e agende sua consulta.